sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Revista Educação Infantil - O desenho infantil


O desenho infantil: descoberta criativa da criança

O desenho é para as crianças um conjunto de possibilidades para a descoberta de como se comunicar e se expressar de forma mais adequada com o mundo que as cerca. Cabe ao educador, incentivá-las nesta descoberta criativa.
*Por Nayara Barrocal

A criança, ainda bem pequena, já tenta por imitação, a utilizar o lápis e a tentar esboçar seus primeiros rabiscos, depois tanto o lápis, quanto outros materiais que sirvam de instrumentos de registros, passam a ter espaço significativo em sua infância. Com o tempo, os desenhos vão evoluindo e apresentam elementos diferenciados em suas produções de acordo com a fase de cada uma.
Geralmente, as crianças gostam de desenhos desde muito pequenas, por isso então, a necessidade de se estimulá-las a exercitar o desenho livre dentro e fora da escola, cabendo aos pais e educadores a organização de espaço e material adequado pra tal finalidade. Colocar a disposição lápis, papéis, giz de cera, tintas, hidrocores em um cantinho especial da casa ou da escola é uma maneira de apoiá-las neste processo de descoberta e criação.
A criança quando desenha se expressa e se comunica com o mundo que a cerca, garantindo assim a interrelação entre alguns aspectos importantes para o desenvolvimento infantil, tais como físico, intelectual, afetivo, cultural, dentre outros. Na verdade, o desenho é para a criança um conjunto de oportunidades que unem particularidades (escrita, arte, cultura, grafismo) e necessidades (comunicação com os demais, expressão de sentimento, interação social). Por meio deste ainda, expressa todo o universo da criança e o que invenção criativa proporciona como: sonhar, viajar, planejar, comunicar, interagir sobre o meio através dos rabiscos, cores e elementos colocados no papel.
A importância do desenho infantil também é levada muito em consideração, por este falar por si só de sentimentos, situações, vivências. Muitos educadores, psicólogos, assistentes sociais em indeterminadas áreas de pesquisa, vem utilizando o desenho como recurso de comunicação e expressão, pois por meio deste, a criança transmite o que sente e o que busca em determinados momentos e que não conseguem externar.

Sugestões para incentivar os desenhos infantis

• Proporcionar a criança o uso de materiais diversificados, papéis de variados, materiais diferentes;
• Propor atividades desafiadoras como desenhar sem tirar o lápis do papel, com os olhos fechados, com carimbos dos dedos e mãos, etc.;
• Sugerir às crianças que registrem sensações como: doce, azedo, salgado, quente, frio, mole, duro, alegria, tristeza, dor, saudade através de desenhos;
• Sair com as crianças para uma aula-passeio, observar o mundo em volta, senti-lo, prová-lo quando possível e no retorno, transcrever as sensações em forma de desenhos;
• Observar e comentar com as crianças sobre desenhos, pinturas, esculturas, telas, etc. Analisar as características das produções e de seus criadores e sugerir a releitura destes pelas crianças.

A função do educador como incentivador e facilitador do processo de desenvolvimento do desenho infantil é muito relevante, pois o mesmo precisa além de conhecer as fases do desenho infantil, é indispensável que seja sensível a ponto de desafiar, acompanhar, incentivar gradativamente os conhecimentos e as experiências das crianças.

Alguns pontos que merecem atenção do educador

• As cores, a proporção, os elementos estão intimamente ligados com as questões afetivas da criança, estão relacionadas a emoção e não à razão, ou seja, o uso demasiado de uma cor pode indicar alguma mudança de comportamento como depressão infantil ou mesmo alguma característica pessoal de determinada criança como timidez ;
• Ao desenhar, as crianças expressam sentimentos e liberam sensações – neste momento, podemos descobrir dúvidas, medos, sentimentos que as crianças não conseguem externalizar;
• O desenho da criança varia de acordo com o ambiente em que está inserido e com as experiências que este oferece – a intervenção do adulto é imprescindível;
• O processo de evolução do desenho infantil está relacionado com o desenvolvimento global da criança – de acordo com o desenvolvimento cognitivo, emocional, social, o desenho evolui;
• Os desenhos evoluem de acordo com o ritmo individual de cada criança – cada ser é único, e assim deve ser observado também no sentido do desenho infantil, não pode existir espaços para comparações;
• Se comunica quando demonstra o que pensa sobre os elementos que compõe seus desenhos – o desenho expressa por meio dos elementos a vida real ou imaginária da criança;
• Através do desenho, aprendem sobre as coisas que registra em suas produções – o desenho é uma excelente maneira de saber se a criança da Educação Infantil construiu conhecimentos acerca do que foi estudado.

Neste sentido é relevante destacar mais uma vez a importância da intervenção do adulto quando estimula a inserção de elementos ou ainda da conversa informal decorrente das produções infantis com as crianças envolvidas no processo. É importante destacar ainda que, mesmo crianças que vivem em contextos diferentes, em contato com mundos diversificados apresentarão aspectos do desenho infantil que são semelhantes entre crianças na mesma faixa etária, o que mudará são as formas dadas aos objetos significativos da sua realidade, Por exemplo, crianças que vivem no litoral tendem a registrar a vida no mar, outras que vivem em grandes metrópoles, desenharão prédios altos, muitos carros, etc.
As etapas ou fases do desenho infantil nos permitem acompanhar a evolução do grafismo infantil e também do desenvolvimento infantil, ou seja, de como mudam os seus desenhos, sua organização, seus elementos e assim, ocorre o despertar para a arte e para a escrita.
Fases ou etapas do desenho infantil
1. Rabiscação
Já podemos observar diferenças nos desenhos das crianças ainda muito cedo, de acordo com as particularidades de cada uma, de forma que, umas rabiscam com mais força, outras mais delicadamente. E nessa fase já podemos ver uma evolução, quando observamos a subdivisão entre descontínua e contínua. Esta fase ocorre geralmente antes dos 3 anos.
- rabiscação descontínua: a criança apresenta prazer em manipular o lápis ou instrumento de registro, não tem noção do espaço do papel e não se limita a este. Ainda não revela coordenação de movimentos e intenção de comunicação através deste. Os rabiscos não se seguem, ou seja, a criança retira o lápis do papel ao desenhar, sem dar continuidade ao traço.
- rabiscação contínua: ainda não expressa seus pensamentos por meio dos desenhos, mas o nível de coordenação está mais aperfeiçoado, desta maneira, os traços surgem num vai e vem mais ritmado, a criança repete os traços variando para movimentos mais complexos, e estes se complementam quando a criança não retira o lápis do papel.

2. Células
Nessa fase, que acontece por volta dos 3 anos e meio, a criança começa a observar que o traço pode ter outras formas, e então descobre a fórmula de fechar os rabiscos anteriores, o que forma a célula. Quando isso ocorre, a criança passa a valorizar ainda mais suas produções até porque percebe que os adultos começam a se interessar e a elogiar seus desenhos. Nesta etapa também, passa a verbalizar o que desenhou e mas ainda não demonstra a intenção de se expressar alguma ideia por meio destes. Os significados dos desenhos mudam, ora um sol, ora o papai, tudo dependerá da vontade da criança no momento.

3. Garatujas
É por volta dos 4 anos que as garatujas aparecem, quando também as mãos já ganharam maior destreza de movimentos. Neste sentido, as garatujas surgem do interior das células quando destas, saem radiais ou traços que representam os braços e as pernas, bem como pontos que indicam o nariz, a boca. Nessa fase as crianças ficam muito estimuladas com seus progressos e cabe aos adultos estimularem as produções. Elas gostam também de dar nome a seus desenhos de acordo com sua própria interpretação, o que denota a intencionalidade de se expressar por meio do desenho. Depois da primeira garatuja criada, a criança inicia o desenho intencionalmente feito, ela pensa, relembra e refaz, ou tenta fazer, e isso prova que os homens têm condições de expressar o seu pensamento através da forma gráfica, como já faziam os homens da caverna. A criatividade deve ser estimulada e não ser imposta de forma a oferecer modelos prontos para cópia ou pintura simplesmente, é interessante deixar a criança se comunicar por meio de suas descobertas criativas.

4. Figuras Isoladas
Por volta dos 5 anos, a coordenação dos movimentos já deve estar mais aperfeiçoada e a percepção e memória de detalhes também em processo contínuo de evolução, por isso, a criança começa a desenhar figuras que ficam soltas no papel como se estivesse voando, mas essas figuras tem agora bastante relação com os objetos ou pessoas conhecidas. Geralmente representam a figura humana, casas, animais, sol, flores, brinquedos. A cor e o tamanho ainda não tem muita relação com o real, estando mais ligados aos seus estados emotivo. É uma fase que claramente se encontra entre as garatujas e a próxima fase, cenas simples, por isso, os incentivos são imprescindíveis.

5. Cena simples
As cenas simples revelam um aprimoramento na organização de idéias, um nível maior de coordenação motora. O desenho tem pouca variedade de elementos, poucos detalhes e cores, e reduzida orientação espacial. Porém, é possível observar características que indicam progresso como cabelos na figura humana, céu com sol e nuvem, chão e algumas vezes, as orelhas. Há um avanço na expressão do pensamento relacionado ao desenho feito, ou seja, se expressam com frases curtas, mas coerentes com a produção.


6. Cena completa
Por volta dos 6 anos e meio, a criança utiliza o desenho como forma de expressar a construção aperfeiçoada do pensamento. Há mais elementos que compõe o desenho, significativa relação entre eles e também mais detalhes nas pessoas, nos objetos e nas coisas que a criança registra. Nessa fase a linguagem da criança sobre o desenho se amplia e elas contam pequenas histórias relacionadas com ele.

Agora, conhecendo todas as fases do desenho infantil, é interessante observar que a evolução deste ocorre de maneira gradual, geralmente atendendo à uma faixa etária, mas de uma forma que pode não ser tão previsível. Como tudo, dependerá das intervenções realizadas, materiais oferecidos e os estímulos recebidos pela criança. Desta forma, sabe-se que esta sequência é semelhante mesmo em crianças com realidades culturais e sociais totalmente diferentes como mencionado anteriormente.

Sugestões de leituras

• A criança e seu desenho – o nascimento da arte e da escrita. Philippe Greig.Editora Artmed.
• A criança e sua arte. Viktor Lowenfield. Editora Mestre Jou.
• Educação Pré-escolar. Gilda Rizzo. Editora Francisco Alves.

Um comentário:

  1. Olá, tudo bom? Estou me interessando pelo assunto desenho infantil. Gostaria de saber de que autor ou livro foi retirado as fases que voce descreve acima. Ficaria grata!
    Ana Paula
    e-mail: paulalimabarretos@yahoo.com.br

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